Uma chama viva no coração empurra Lucas para um momento crucial de sua caminhada cristã. É tempo de decisões e escolhas: ir para a Universidade ou ir para Missões?
Vários cristãos de compromisso se deparam com esse dilema em algum momento da vida. Outros tantos cristãos, igualmente comprometidos, mas, hoje já profissionais adultos, sentem-se divididos ou frustrados por terem escolhido uma coisa em detrimento da outra na sua própria caminhada vocacional.
Alguns profissionais cristãos gostariam de ser missionários e muitos missionários gostariam de ter tido uma formação universitária. Essa realidade nos comprova que, nas últimas décadas, o discipulado vocacional da Igreja tem se mostrado deficiente. Temos muita gente que “patinou” na hora da decisão e hoje não está plenamente feliz e realizado. Existe alguma saída redentora para a nossa e para a próxima geração se descobrir no seu chamado?
Antes, é interessante pensarmos sobre o processo sociológico que vivemos nos últimos anos. O que mais marcava a vida de um vocacionado há alguns anos, poderia ser resumido pela frase: “largou tudo e foi para missões”. E de fato, a obra missionária foi agraciada com homens e mulheres de fé, abnegação, renúncia e muito, muito amor pelo Reino de Deus. Gente que deixou empregos e profissões nobres e conquistadas com esforço pessoal e da família.
Nada apagará esse legado! E não creio que essas pessoas estavam erradas. Creio que elas, ao menos em sua maioria, ouviram a voz de Deus e obedeceram. E Deus honrou e usou tremendamente esses irmãos.
Também sabemos que, muitos dos que escolheram a Universidade, hoje são cristãos piedosos em suas comunidades e com uma capacidade de servir e abençoar a Sociedade como os missionários não poderiam fazer. Hoje, entre os cristãos, temos grandes profissionais, gente que está escrevendo seu nome na história da nossa nação ou em outras. Também sabemos que, uma vez formados, outros tantos seguiram a carreira missionária com um preparo diferenciado.
Não pretendemos aqui acusar nenhum dos dois grupos. Eles são fruto de um tempo, de um discipulado e de um conceito sobre vocação distinto. Hoje esse dilema vive uma época de mudanças.
Se observarmos o perfil geral dos obreiros no campo e as perspectivas atuais da Missão, vemos que o clamor do campo missionário de hoje é uma mistura desses dois paradigmas que descrevemos acima. Hoje, precisamos de gente séria e abnegada, pronta para renunciar e entregar sua vida em longo prazo. Mas, precisamos ainda que essas pessoas tenham um preparo acadêmico profissional e missiológico suficientemente maduro para oferecer respostas à geração presente e atuar para além do evangelismo. Precisamos estabelecer os valores do Reino de Deus entre os povos, valores esses, integrais, como diz o Pacto de Lausanne: “Todo o Evangelho, a todo homem e ao homem todo”.
Atualmente, a prática da Missão precisa romper a superfície e atuar em áreas-chave da Sociedade como a Saúde, Educação, Economia e Gestão Pública, Comunicação, Ciência e Tecnologia, etc. O Evangelho pode e precisa influenciar os destinos dos povos e mudar os valores em cima dos quais construímos a vida como um todo. Isso é o que chamamos de Missão Integral, tão bem definida pelo próprio Pacto de Lausanne.
Diante de uma Missão Integral, será que precisamos mesmo nos prender à decisão entre uma coisa e outra, no caso, Universidade ou Agencia Missionária (ou Seminário Teológico)? Elas são mesmo divergentes ou são complementares?
Como tudo que é vivo, a Igreja e o campo missionário mudaram e amadureceram. Hoje, estamos diante de um cenário diferente dos anos e das décadas passadas. As nações precisam de um Evangelho que as tire de uma condição de miséria econômica, social e espiritual. E o Evangelho de Jesus Cristo tem esse poder e esse destino: fazer novas todas as coisas. Os missionários do presente precisam ser agentes do Reino de Deus: agentes da Justiça, da Paz e da Alegria no Espírito Santo em todas as áreas da Sociedade e da vida.
A obra missionária precisa de profissionais como nunca antes visto! Precisamos de agrônomos e veterinários que desenvolvam comunidades com agroeconomia sustentável. Enfermeiros, médicos, nutricionistas e dentistas chamados para atuar com famílias pobres, no Brasil e nas nações de modo geral. Economistas, administradores e contadores para ensinar a santa sabedoria da gestão, tanto em comunidades como em iniciativas populares ou em agencias missionárias. Letrados, jornalistas, publicitários, designers, programadores web, tradutores e profissionais em geral que atuam com Informação! Essas pessoas tornam a verdade conhecida! Anunciam a Palavra.
Imagine falar em tradução da Bíblia sem mencionar os missionários altamente qualificados na área tradutológica e lingüística? Ou um trabalho itinerante em contextos de selva sem biólogos, pilotos e, até mesmo sem mecânicos?!
Por mais incrível que possa parecer, precisamos de químicos, matemáticos, artistas, engenheiros, arquitetos, chefs de cozinha e todo o tipo de profissional no campo missionário. Muitos ministérios, belíssimos, naufragam por causa do amadorismo e da falta de uma gestão inteligente, estratégica e sustentável.
Todavia, não estamos dizendo, em momento algum, que não se pode ser missionário sem um diploma universitário. Estamos apenas argumentando que, não precisamos mais nos prender ao paradigma da escolha de um em detrimento do outro. Existem muitos obreiros no campo que nunca pisaram em uma universidade e, nem por isso, tem um ministério menor. O que a formação pode fazer é, dentro da motivação e direção corretas, oferecer ferramentas adicionais a um ministério pessoal ou a um grupo de trabalho. E isso hoje faz toda a diferença!
Não existe um segredo quanto ao que escolher. Cada pessoa tem um destino em Deus e só Ele pode dar a resposta certa quanto ao caminho a seguir. Vários obreiros estão retornando à Universidade para se re-qualificar e tornar seus ministérios mais eficazes. Assim como, vários profissionais estão se re-descobrindo missionários nas áreas em que estão atuando. Isso porque Missões é uma tarefa e não um lugar ou condição específica.
Se você está na dúvida sobre o que fazer, gostaríamos de dar algumas dicas, baseadas na nossa experiência pessoal:
Primeiro, talvez, seja interessante trilhar um caminho processual. Participe de um programa de férias missionárias ou de um treinamento de curto prazo antes de se decidir de fato. Para algumas pessoas, é exatamente o dia a dia missionário que os conduz à melhor escolha na hora do vestibular. Para outros, a experiência missionária prática anterior não é tão indispensável assim.
Segundo, se você já está na Universidade, em tese, o melhor a fazer é concluir aquilo que você nela começou. Claro que a palavra final sempre vem do Senhor, mas não são poucos os que param sua formação e não conseguem voltar depois para concluí-la.
Terceiro, se você já está em missões, busque primeiro entender seu chamado e vocação. Isso porque, ao buscar mais formação acadêmica, é importante que seja feito a fim de encontrar a formação que corresponda corretamente àquilo que você quer fazer na obra missionária.
Então, você entende que Deus está te chamando? E agora? Com quais ferramentas você responderá? A Universidade virá primeiro ou a preparação missionária? Responder a isso é menos importante que a capacidade de ouvir a voz de Deus e obedecê-La. Ela é a única capacidade indispensável para a carreira cristã, principalmente a missionária. Conheça a Deus, para então fazê-Lo conhecido.
Geralmente, a formação dura um tempo menor que a carreira missionária. Por isso, não errar é muito importante para não retardar sua caminhada rumo ao alvo, ao prêmio da soberana vocação em Cristo Jesus.
Que o Senhor da Seara te conduza nesse caminho!
Daniela Xavier
Coordenação de Comunicação e Mobilização de Igrejas
Missão Kairós